Um Ano

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Relógio maldito. 23:22. Desde quando o tempo passou a se arrastar, se estender de tal forma, onde o dia passa a ser uma eternidade? Meu Deus... Cada tic toc que adentra por meus ouvidos, dá a impressão de destruir as últimas forças que venho economizando. Os dias passam - mesmo que lentamente - escancarando em minha face que, não importando o que aconteça, você não irá voltar. Independentemente de quanto tempo passe, você continuará do lado oposto do meu. As coisas não se resolvem mais como antes; pedidos de desculpas não nos saciam mais. Um beijo ao pé do ouvido significa quase nada. As entrelinhas já não podem mais ser lidas. Não seja fraca. Não se entregue à dor. Não se renda, guria. Seja forte - sussurro. Cadê você, amor? Onde se meteu? 23:31. Só para constar, sei que tu continuas habitando a casa na rua debaixo; sei que estás cursando um curso renomado, como também sei que todas as sextas-feiras, você vai ao bar onde nos conhecemos encher a cara - mas não é exatamente desse paradeiro que desejo ter conhecimento. Céus, onde diabos, tu enfiou todas as qualidades e defeitos pelo qual me apaixonei? Não te encontro. Teus olhos já não têm mais brilho - virou azul acinzentado morto, aliás. Teu sorriso não me traz paz. Teu olhar aguçado, já não me faz mais bem. Onde você foi parar, garoto? Confesso que tua partida abalou todas as minhas estruturas, mas não imaginei que te causaria danos. Foste sempre forte e centrado. 23:46. Dentre tantas voltas e meia-voltas, términos e reconciliações, encontro-me no mesmo ponto onde começamos. Não te pertenço; e, diabos, como isso me dói! Meus beijos não são mais teus. Teu sorriso já não vem em minha direção, apenas olhares rancorosos. Por que faz isso comigo? Porque deixa outras mulheres deitarem no nosso ninho, contaminar os nossos travesseiros, usarem tua camiseta de dormir que me pertencia? Porque procura em outros lábios o que você sabe que encontrará só nos meus? 23:50. As notícias rodam a cidade inteira, mas chegam a mim, querido. Dizem que tu encontraste uma morena capaz de segurar tua mão e te acompanhar nos bares moribundos que tu frequentas. Coitada. Mal sabe ela que todas as vezes em que tu sorri, está pensando em mim. Tudo bem. Não faz diferença. Meu Deus, até onde conseguirei aguentar? Meus pais perguntam sobre você; minhas amigas conscientizam-me que tudo vai ficar bem; teus amigos olham-me com dó; e eu... Culpo-me. Por ter me entregado a você. Por ter pensado que poderia te mudar, tirar essa tua casca de garoto galinha e malcriado. 23:55. Mas, sejamos sinceros para não sermos hipócritas, eu te marquei. Tatuei meu nome em teu coração. Fiz-te virar homem. E nesse processo todo, virei mulher. Amadureci. Tua dor me fez bem, amor. 23:57. Mas, veja só que ironia, você não está ao meu alcance. Tua alma continua pequena. Tua cabeça ainda está numa busca insaciável por alguém que consiga te fazer feliz - coitado, não percebe que a única pessoa a qual te fez sorrir, fui eu. A guria da rua de cima. 23:58. Meu coração grita pelo teu nome, mas a minha casca de mulher, diz baixinho que não te precisa. Mentira. Então, fique longe. Continue nessa tua vida infeliz - durma com quantas mulheres achares necessário, mas a fragrância de teus lençóis sempre te acusará; meu perfume está fragmentado em teu quarto, pequeno. 23:59. Estou te libertando, de uma vez por todas. Prometo-te que mudarei a minha rota diária, desviarei de tua casa. Passarei a frequentar outros estabelecimentos, mudarei de ares. Mas, me deixe ir. Liberte-me. Acho que está na hora do nosso adeus. 00:00. O tempo não engana. Hoje, deveríamos estar comemorando; espero que tu saibas o que esse dia nos significa. Mas está tudo bem. Não, não está. Vamos agora, fazer o que é certo, como deveríamos ter feito há um ano. Somos um erro. Eu morri para você. Você morreu para mim.

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