Única

Eu sou a única pessoa do mundo que consegue te enxergar cru, sem máscaras, sem retoques. E isso te assusta. Eu sei de todos os seus medos, anseios, desejos, conquistas, derrotas, frustrações. Você não sabe, mas eu sei. Ninguém te decifra pelo olhar como eu. Ninguém tem paciência em montar o seu quebra cabeças como eu. Ninguém te entende e te deixa tão vulnerável como eu. E por isso você foge, se esconde, se fecha. Mas eu te conheço, eu te sei, eu te vivo. Sempre acabo derrubando as muralhas que te cercam e entrando no seu mundinho fechado, pulando a janela dos fundos. E isso te deixa intrigado. A minha facilidade em ler os seus enigmas e reparar nos seus detalhes te coloca em um campo minado. Você me pergunta como eu consegui reparar em alguém tão pequeno comparado ao resto do mundo, mas eu não sei ao certo o que responder. Algo me diz que você é diferente. E outro algo confirma essa hipótese. Penso, talvez, que tenha sido os mistérios que se escondem por atrás dessa sua capa-protetora-contra-todos que me abriram o apetite em te descobrir. Ou melhor: em te ajudar a se achar. Você deseja me odiar por causa da minha ousadia aguçada, mas algo maior pulsa aí dentro avisando que ninguém nunca te enxergou tão transparente quanto quem você tenta suprir qualquer tipo de sentimento ruim. Você tenta socar o seu coração até ele diminuir, mas eu juro que não me assusto com o real tamanho que ele possui. Te apresento o meu também, se preferir. A minha tristeza pode sair pra jantar com a sua, enquanto a gente assiste filme e faz guerra de pipoca no meu sofá. As nossas solidões podem bailar sozinhas trancadas no quarto, enquanto a gente se contenta em ser feliz um sábado inteiro na sala de estar. A minha felicidade poderia encontrar na sua um colo pra morar pra sempre, se você permitisse, quisesse e colaborasse.

- Capitule