Bagunça

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Não tem espaço em mais nada, todas as gavetas estão entupidas, todas as cômodas, os armários dos quartos, do banheiro e da cozinha. Os talheres estão todos no chão, cansei de pisar em garfos. Os livros, os discos, tudo espalhado, uma bagunça. Embaixo da cama está também lotado. Já está passando pelas janelas e ganhando a rua. O jardim está coberto, pilhas e pilhas, e olha que eu varro ele todo dia, mas essa saudade cai mais do que as folhas no outono, nasce em tudo, multiplica por todo canto, durmo e acordo em cima dela. Eu poderia deixar esta casa, mas eu também não teria roupas para fugir daqui, pois está no bolso das minhas calças, está nos meus sapatos e nas minhas meias. Eu poderia mudar de planeta e nada adiantaria, ela está dentro de mim, eu fui o primeiro a ser invadido e ocupado por essa saudade, e é daqui que tenho que me mudar, de dentro-dentro de mim. E é esse o meu medo, não é de ti, não é da saudade, é de me deixar pra trás, e depois me reencontrar. O meu medo é saber: quem sou eu depois de nós dois?

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