
Asas
❝ - 04:29 ❞
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Perdeu as asas um pouco antes das dez da noite, isso ela jĂĄ esperava, sĂł nĂŁo esperava que viesse por mensagem, fechou os olhos e deixou a preocupação para depois. Na manhĂŁ seguinte ela sĂł queria um banho quente, daqueles que a gente entra aos poucos, e quando entra, nĂŁo quer sair nunca mais. Sua amiga, Rita, esperava que ela viesse aos prantos e estranhou a normalidade do "Oi", "NĂŁo tĂĄ triste? NĂŁo sente falta das asas?". Ela sabia que a pergunta viria, "Sinto, mas tambĂ©m sentia falta de colocar os pĂ©s no chĂŁo, como Ă© bom". Rita ficou decepcionada, estava preparadĂssima para consolar a amiga, "Que legal que estĂĄ bem, mas te conheço, vocĂȘ vai morrer de saudade". Ela respirou fundo e respondeu como se respondesse pro mundo todo, "Saudade Ă© o amor buscando perfeição, e ele chora quando nĂŁo encontra. Se o amor Ă© perfeito, eu sou outra coisa, cheia de defeitinhos, que quer alguĂ©m que olhe nos olhos, mesmo que seja pra dizer adeus. TĂĄ tudo bem, sĂ©rio.", e ela seguiu, com asas ainda maiores do que aquelas que havia perdido na noite anterior. Dizem que a gente renasce no fim, mas eu desconfio que seja no meio de um banho quente.
30/12/2018
❝ - 23:59 ❞
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Hoje
❝ - 04:26 ❞
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Se vocĂȘ nĂŁo se entregar hoje, amanhĂŁ pode ser tarde demais. AmanhĂŁ pode nĂŁo ter resquĂcio de amor. AmanhĂŁ esse sentimento que tĂĄ aĂ dentro de vocĂȘ pode se transformar em fuga, medo ou vontade de ir embora. EntĂŁo aproveita esse momento-presente, que estĂĄ passando diante de vocĂȘ e abraça ele. Promete pra si mesma que vocĂȘ nĂŁo vai deixar passar essa pessoa que apareceu do nada, quando vocĂȘ menos esperava. Porque sĂŁo essas pessoas que no final das contas faz do nosso corpo um caminho, e da nossa histĂłria uma conversa boa pra contar.
Deixa o amanhĂŁ morar no amanhĂŁ. Eu sei que o medo Ă s vezes tenta afugentar vocĂȘ antes de dormir, e que vocĂȘ pensa duas, trĂȘs vezes se vale a pena se abrir assim, e se permitir ser vulnerĂĄvel. Faz tanto tempo que vocĂȘ decidiu nĂŁo se doar de novo, mas faz tempo tambĂ©m que vocĂȘ nĂŁo sente essa adrenalina que bate no peito. Eu sei dessa sensação que mora em vocĂȘ quando ela te liga, quando ele olha fundo nos seus olhos, quando vocĂȘs dois estĂŁo entregues Ă paixĂŁo. E Ă© bom. TĂŁo bom.
EntĂŁo sĂł por hoje, e quem sabe amanhĂŁ tambĂ©m, e semana que vem, quem sabe durante esse ano? NĂŁo importa. Importa enquanto dura, enquanto o coração palpita e a respiração fica acelerada. Importa isso que vocĂȘ tĂĄ sentindo aĂ dentro e que Ă s vezes faz vocĂȘ querer correr pra ver se esse friozinho vai embora. Mas esse friozinho passando por vocĂȘ Ă© sinal de que ainda hĂĄ muita coisa pra acontecer. Que a vida apronta pra gente, porque Ă© isso que Ă©, sobretudo, viver. A gente vai ser ferido, vamos tentar nos esconder e preservar a nossa fragilidade, e, enfim, encontrar o amor, o amar, em alguĂ©m, e em nĂłs.
Viva hoje todo esse amor que estĂĄ tomando conta de vocĂȘ. E o amor vocĂȘ deixa pro amanhĂŁ.
Bailarina
❝ - 04:20 ❞
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No momento em que ficou na ponta do pĂ© tornou-se bailarina, lembrou que ainda criança jurou que um dia seria. Jurava enquanto negava todas as cirandas na escola, desde pequena acostumada a guardar sonhos no armĂĄrio. Agora, dançava, equilibrando o mundo nos pĂ©s, nĂŁo o contrĂĄrio. Por um instante, recordou dores do passado; as pernas amoleceram e as canelas fraquejaram, os pĂ©s vieram completos ao chĂŁo. Ela respirou, olhou para o cĂ©u e sussurrou, "Socorro". NĂŁo ouviu qualquer resposta e, sorriu, pelo desespero bobo. Encheu os pulmĂ”es de ar, fechou os olhos e expirou com leveza enquanto as pernas esticavam, equilibrando os sonhos num passo, abrindo a porta de todos os armĂĄrios. A Terra, com medo de fazĂȘ-la cair, suavemente foi parando. Logo que ela notou, disse olhando para baixo, "NĂŁo para, por favor, gira, gira, pois Ă© teu giro que me fez bailarina. Sim, foi vocĂȘ, vocĂȘ e essas voltas que dĂĄ".
Chorei
❝ - 04:18 ❞
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E eu que sempre levei o mundo dos outros nas costas, gritei, senti, chorei. Chorei como uma criança chora em desespero querendo a sua mãe. Chorei como não chorava hå muito tempo. Pois pra todo mundo não sentir muito, eu fingia sentir tão pouco.
- Teteu Batatinha
Rua
❝ - 04:14 ❞
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Aprendi desde pequeno que beleza nĂŁo Ă© tudo, aprendizado que obviamente foi abaixo quando te vi. Esses que disseram que beleza Ă© superficial, que o importante Ă© o interior, pois bem, nunca cruzaram com vocĂȘ por aĂ, nunca pegaram o mesmo metrĂŽ e nunca viram vocĂȘ descendo a rua de bicicleta, dessas ruas que a gente sĂł vĂȘ as pessoas descendo, mas nunca subindo (aliĂĄs, por onde raios esse povo sobe?). A beleza atĂ© pode nĂŁo ser eterna, mas um minutinho da sua jĂĄ tava bom demais. Me perdoem se por um momento perdi a sensibilidade, se transformei a poesia em grosseria, mas Ă© tĂŁo bonita, tĂŁo bonita, que nem tem rima. O que resta Ă© a torcida pra estar na mesma rua no momento exato em que vocĂȘ desce; iluminando o asfalto, alegrando os olhos, silenciando o poeta.
Quanto
❝ - 04:13 ❞
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Quanto tempo falta pra gente nĂŁo querer se ver?
Quando tempo falta pra gente nĂŁo querer se ver nunca mais?
Quando tempo falta pra gente se ver e fingir que nĂŁo se viu?
Quanto tempo falta pra gente se ver e nĂŁo se reconhecer?
Quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu?
SilĂȘncio
❝ - 04:09 ❞
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Era sĂł silĂȘncio, os dois escrevendo textos imensos dentro da cabeça, mas sem conseguir dizer uma palavra sequer. O quarto estava mais escuro que o habitual, um quarto que poderia contar em detalhes a histĂłria dos dois, uma histĂłria que chegou ao fim. Ăntimos, mas nĂŁo se tocavam. Jovens, mas nĂŁo se tocavam. Acreditavam com toda certeza do mundo - daquele mundo que conheciam tĂŁo pouco - que aquela era a maior despedida das suas vidas. Tudo seria mais fĂĄcil se viesse alguĂ©m do futuro, um otimista, contar para eles que surgirĂŁo novos amores. Ou, um pessimista, avisar que Ă© sĂł a primeira de muitas despedidas. Mas nĂŁo vem ninguĂ©m, e a gente morre de amor por falta de aviso. Enquanto isso, todo amor Ă© o primeiro e todo amor Ă© o Ășltimo, atĂ© que provem o contrĂĄrio, quer dizer, atĂ© o dia amanhecer.
4AM
❝ - 04:08 ❞
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Era 4 horas da manhĂŁ quando respondi sua mensagem. VocĂȘ respondeu e estava caindo de sono. Eu li sua mensagem, "VocĂȘ estĂĄ acordado?" As Ășnicas pessoas que estĂŁo acordadas nessa hora estĂŁo de coração partido ou apaixonadas, e eu sabia que ela estava de coração partido. Eu abri meus olhos de sono e respondi de volta: "Sim. Precisa conversar?" E ela fez. Mas, Ă s 5 da manhĂŁ ela acabou dormindo e eu nĂŁo. As Ășnicas pessoas que estĂŁo acordadas essa hora sĂŁo as de coração partido ou apaixonadas. E, eu estava apaixonado pela pessoa de coração partido...
Abraço
❝ - 04:02 ❞
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Tem abraço que parece beijo, mas não é nada mais que o desejo escondido em apertos de mãos e cumprimentos, aqueles que encostam no ponto entre a bochecha e a boca. Se é para ser beijo, então, não trocarei por aperto, por mais que o abraço seja delicioso, o beijo ainda assim é beijo e tem gosto, gosto daqueles sonhos das noites tristes, com os pés frios sem meias, com o coração sem companhia, com a cabeça cheia e a barriga vazia, com o quarto parecendo completo com a sua presença, mas só parece, assim como o nosso abraço que insiste em ser beijo que nunca acontece, transformando a nossa história de amor inexistente num infeliz desejo. E desejo é pouco, desejo eu tenho até por chocolate, que tem gosto de chocolate, tem cheiro de chocolate e não me engana parecendo ser outra coisa, diferente do nosso abraço, que parece beijo, mas não adoça e nem molha a boca.
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