Diferentes

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Somos muito diferentes. E não me refiro apenas ao fato de que eu gosto de azul, você de vermelho. Eu gosto de cinema, você de balada. Eu gosto de mar, você de piscina. Não é sobre isso. Nós somos completamente diferentes em tudo: na maneira de pensar, agir, falar, sentir, ser. Você precisa de uma atenção constante que eu não posso dar. Eu preciso de uma risada educada pra minha piada sem graça que você não tem vontade de rir. A minha complexidade não sabe lidar com a sua. Um dos lados deveria ser mais leve, mas a gente só sabe pesar. E é peso demais pra uma barca frágil como a nossa. Meu coração é egoísta e não sabe te dividir com o mundo. O seu, por outro lado, precisa de mim, mas tem um querer maior em abraçar o resto da humanidade. Percebe a placa que sinaliza que isso nunca vai dar certo? Eu sei, eu sei; você também sabe, o jornaleiro da rua de baixo também, a vizinha que faz bolo de chocolate também. Mas o problema é que algo a gente tem em comum: a vontade que dê certo. A vontade de fazer com que os nossos singulares solitários virem algo maior, a vontade de regar um sentimento fundo e bonito, a vontade de ser qualquer coisa, mesmo sem saber o que fazer com a grandeza dessa coisa toda. Dá um puta medo, eu sei. E isso nós também temos em comum: medo. Medo de que os cinco por cento de esperança que nos restam, falhem. Medo de que a correnteza do abismo seja mais forte do que as águas da felicidade. Medo que percamos os remos. Medo de não sabermos nadar e afundarmos em algo que mal temos ideia do que é. Mas, ainda assim, apesar de todos os ventos contrários, algo mais sutil nos sopra que vale a pena. Não sei ao certo a lógica disso, nem tento entender. Porque, se com tantas opções de histórias mais fáceis, mais belas e mais compreensivas por aí, ainda assim, nós continuamos insistindo na nossa, bem, isso certamente quer dizer alguma coisa. E essa alguma coisa é a base de tudo. Ou melhor: é o que sustenta o nosso nada.

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