![[14619.jpg]](https://i.ibb.co/MW2xKCg/14619.jpg)
Escrevo para ninguém, a carta continua sendo sobre amor. Não há pupilas que dilatam e ossos maltratados da infância. Não tem terapia em dia, não é de touro, não é de áries, não gosta que fale de astrologia. Escrevo essa carta para alguém que nunca se sentou numa mesa de bar comigo e disse, "Vai pedir mais um?". A carta continua sendo sobre amor, sem número de telefone, endereço ou arroba, sem e-mail - o destino apontado em mapas enormes abertos sobre a mesa. Escrevo torcendo (leia-se: pedindo aos céus) para que alguém receba essa carta disfarçadamente, como quem compra drogas num festival de música. Ao fundo, nenhum jazz ou Caetano, o barulho vem do frigobar, e isso pode trazer alguma dúvida, porém a carta continua sendo sobre amor. O texto é curto e centralizado, todo em minúsculas, apenas: não demore. No final, assino um apelido bobo, brincando com o fato desse alguém não apreciar astrologia.

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