Elevador

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Eu me machuquei tantas vezes, você sabe um pouco. E não é o machucado batendo com o dedo na ponta do armário, com a cabeça na parede ou o dedo na porta. É o machucado de bater no coração do outro e nada se abrir. Ou abrir e cair no vão como um elevador estacionado no andar errado. É assim que me senti em parte do tempo até hoje: entrando em elevadores que estavam no andar errado. No fim a gente nunca sabe se era para subir ou descer. Ninguém avisa o andar certo. É por isso que tenho esses arranhões, essas marcas tão invisíveis, mas que é só você procurar um pouquinho que logo vê no meu jeito desconfiado e quieto. Eu falo, falo, falo, mas sempre desisto de mim, não gosto e nem quero ser o assunto, porque aí você, com toda certeza e razão, pode querer sair correndo antes que eu só te puxe pra mais um abraço e te diga que eu caso aqui, na Itália ou onde você quiser.
Eu tenho mil poesias aqui dentro, mas vivo com medo de você não querer rimar. Eu gosto da nossa calmaria quase tanto quanto da euforia. Eu gosto quando você me olha sem jeito e abre aquele sorriso que seus olhos sempre piscam duas vezes rapidinho e eu sei que falei alguma coisa certa na hora certa. Mas eu tenho medo; eu entrei em andares errados demais, você me desculpa.
Mas ó, essa novidade é sua: agora eu ando sempre com um paraquedas. Tudo bem se eu cair... acho que você vale a vista lá de baixo.

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