Eu Mudei

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É que a minha vida mudou, sabe? Eu mudei. Eu me apaixonei por pessoas novas e, além disso, eu me apaixonei pelo mesmo homem de novo e tive que lidar, também, com nosso fim. E eu achei engraçado que eu tenha dado de cara com uma coisa sua e não tenha me doído nada porque pra ser sincera não me esforcei em nada pra mágoa ir embora, ela só foi. A minha terapeuta vai até estranhar eu falar de você porque a gente tinha meio que combinado que seria algo pra eu desatar quando eu estivesse pronta, mas eu desamarrei você sozinha e sem precisar sentir o medo de doer tudo de novo como em 2016.
Não foram muitas aventuras, nem destinos espetaculares, mas só de ter seguido outro rumo senão o de paralisar e remoer já me fez sentir como se tivesse vencido. Porque terminar uma relação é entender que no primeiro tempo a gente meio que congela e sangra, sangra, sangra até matar o que tá vivo ainda. Eu senti muita raiva, mas eu também tive muita compaixão por nós dois. Talvez você não saiba disso, mas eu tive. Por termos errado da forma que erramos, por vezes passei a mão metafórica na nossa cabeça e entendi que jovens não poderíamos ter feito de outro jeito. E eu imagino o quanto você se cobre por ter me magoado, mas o que eu poderia esperar do que tínhamos? Quer dizer, que garantia eu tinha? Sei lá. Não é como se eu ignorasse nossos tropeços, mas se eu pensar bem, se eu for imparcial e justa, como poderíamos deixar de cair nesses abismos? Você sabia sobre a vida? Você era algo além de achismo e ego? Porque eu não era.
Precisei revisitar muito minhas emoções pra entender onde eu tinha me perdido e era como naquela música do legião urbana em que ele diz "ela também estava perdida e por isso se agarrava a mim também. Eu me agarrava a ela porque eu não tinha mais ninguém" nós éramos as duas perspectivas desse verso, não éramos? Usávamos um ao outro não usávamos? Você consegue perceber isso? Era cruel. Amar tendo as dores que tínhamos (ou ainda temos) era cruel. Não era certo, nem justo, nem bonito. Não era salvação, nem abrigo. Eu te criei esse personagem, Escobar, você não poderia sustenta-lo. Eu compreendo, de verdade. E não te culpo.
Eu me sinto tão aberta ao mundo e ao que ele pode me oferecer enquanto pessoa sensível que me sinto quase na obrigação de dizer que apesar de reconhecer que te amar foi um dos maiores erros da minha vida, é preciso firmar, frisar, gritar que não é sobre amar você, especificamente. Não é sobre o indivíduo, mas sobre o momento. Sobre a projeção, sobre a expectativa, sobre a forma como eu amei e acreditei amor. Sobre conceitos. Eu amei quando era incapaz de amar. Quando não tinha saúde pra amar, nem corpo, nem tempo. Eu amei do jeito errado, no ano errado, sendo a pessoa errada. Porque nós sempre fomos incompatíveis embora eu nutrisse profunda admiração e respeito por quem você foi. Porque eu sempre gostei muito de você, meu bem, mas nunca de fato combinei contigo, nunca de fato me ajustei a quem tu era, eu nunca pude ser o que você precisa. Você tampouco. A gente não cabia no outro e talvez soubéssemos. Talvez soubéssemos.
Escrevo isso sorrindo, sério. Feliz porque me conheço mais agora. E isso é uma espécie de liberdade que luto diariamente pra ter. Escrevo isso principalmente pra te dizer que acredito que você é bom. Você sempre foi bom. Nosso amor que não. Então desculpa. Me perdoa por todo tempo que fiz você se sentir um monstro. Você não é, você nunca foi. É que às vezes a dor confunde a gente.

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